terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Derek Paravicini: autista e cego, mas um excelente músico

O autismo é “um transtorno definido por alterações presentes antes dos três anos de idade e que se caracteriza por alterações qualitativas na comunicação, na interacção social e no uso da imaginação”.

Existem alguns mitos sobre o autismo. Pensa-se “numa pessoa retardada ou que sabe poucas palavras (ou até mesmo que não sabe alguma). Problemas na inteligência geral ou no desenvolvimento de linguagem, em alguns casos, podem realmente estar presentes... Às vezes é difícil definir se uma pessoa tem um défice intelectual se ela nunca teve oportunidades de interagir com outras pessoas ou com o ambiente. Na verdade, alguns indivíduos com autismo possuem inteligência acima da média.

Derek Paravicini é um exemplo enorme de um indivíduo autista com inteligência acima da média.

Derek nasceu prematuro, com 25 semanas, e com pouco mais de meio-quilo. Como resultado da terapia com oxigénio necessária para lhe salvar a vida, Derek perdeu a visão e o seu desenvolvimento também foi afectado. Mais tarde, tornaram-se claras as suas grandes dificuldades de aprendizagem. Contudo, cedo adquiriu o fascínio pela música e, com apenas 4 anos, aprendeu sozinho a tocar um vasto número de peças ao piano, de alguma complexidade melódica e harmónica, tal como a peça “Smoke Gets in your Eyes”. Obviamente, sem modelos visuais para o guiar, a sua técnica era caótica – até os cotovelos utilizava para executar intervalos que as suas mãos pequenas não permitiam.

Nessa altura, o seu enorme potencial foi reconhecido por Adam Ockelford, que mais tarde se tornou seu professor na Linden Lodge School for the Blind em Londres. A seu tempo, tornaram-se necessárias lições semanais e depois diárias, integradas num programa extenso que durou alguns anos. O principal desafio era “endireitar” a técnica de Derek, que sendo uma criança, era muito excêntrico e irrequieto.

Derek adquiriu, através de demonstrações meticulosas e por imitação, as bases técnicas que eram necessárias à sua evolução. Cedo se tornou evidente a sua afinidade natural para o jazz, pop e música ligeira, assim como o talento para a improvisação, habilidade para tocar em qualquer tonalidade e à-vontade para performances em público.

O primeiro grande concerto de Derek foi em 1989 e aconteceu no Barbican Halls em Londres quando este tinha apenas 9 anos - tocou jazz com a Royal Philharmonic Pops Orchestra. Seguiram-se variadas presenças na televisão regional e nacional, no Reino Unido e além-mar. Mais recentemente, Derek foi destacado na série Extraordinary People (Channel 5, Reino Unido), no Discovery Channel (Health) nos Estados Unidos e na RTL da Alemanha.

O aumento da sua maturidade como pessoa e como músico permitiu-lhe dar concertos por vários locais da Europa e Estados Unidos, entre os quais o reconhecido clube de jazz Ronnie Scott’s em Londres e o Mandalay Bay Arena em Las Vegas.

Derek apresenta um estilo único com uma técnica fenomenal que lhe permite tocar e improvisar peças da mais elevada dificuldade ao piano. Tem uma grande memória – consegue recordar milhares de músicas instantaneamente, as quais consegue executar em qualquer tonalidade e até mesmo com estilos diferentes. Pode tocar Bach com baixo contínuo como dar um “ar jazz” ao estilo de contraponto do compositor barroco.
 


Derek adora performances ao vivo e encontra-se actualmente a realizar uma série de concertos com a Orchestra of St Johns, Londres, nas suas séries “Music for Autism” – eventos especiais para famílias com crianças autistas. Entretanto gravou o seu primeiro álbum a solo “Echoes of the Sounds to Be…”.

Adam Ockelford, seu mentor durante os últimos vinte anos, escreveu o livro “Derek Paravicini: In the Key of Genius” sobre a história extraordinária da genialidade musical de Derek.




Como se vê neste vídeo, enquanto está a ser entrevistado, o jornalista dá a ouvir a música "Moves Like Jagger" dos Maroon 5 a Derek pela primeira vez, e este toca-a de imediato no piano. É por esta característica que lhe chamam o "Human Ipod".

É de ficar sem palavras, não é?

Quantas vezes proferimos a expressão "não consigo!"? Muitas! Quase toda a gente passa por isso, e acha que não consegue alcançar os objectivos que queria alcançar, e foi por causa disto que me falaram deste homem. Numa aula de Música de Câmara, na Universidade, o professor Gil sensibilizou-nos com esta situação; se ele consegue, porque não conseguiremos nós também alcançar aquilo que queremos?

Depois de conhecer a vida deste pianista percebo que hão, provavelmente, muitas pessoas autistas ou cegas ou mesmo as duas coisas que são ignoradas e desvalorizadas, já para não falar de pessoas que não têm qualquer tipo de problema. Ou porque não têm vontade e motivação para alcançarem os seus objectivos ou porque as desvalorizam e desmotivam, não os alcançam simplesmente. Ele é, sem dúvida, um exemplo de força para todos nós, tem obviamente capacidades que muitos de nós não temos, mas também nós temos valias que ele não tem!

Pensem nisso e dêem sempre o vosso melhor, porque todos somos FANTÁSTICOS!

 

Andreia Soares, a57264
Licenciatura em Música - 3º ano
Universidade do Minho

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