terça-feira, 26 de junho de 2012

A música que nasce de uma ideia exterior





A Sinfonia Fantástica Opus 14, nome oficial Episódio da Vida de um Artista, Sinfonia Fantástica em Cinco Partes (em francês Épisode de la vie d’un artiste, symphonie fantastique en cinq parties), foi a primeira sinfonia do grande compositor e músico Hector Berlioz , composta no ano de 1830. É o verdadeiro nome da obra, apresentada no dia 5 dezembro de 1830 no Conservatório de Paris, sob a batuta do maestro François-Antoine Habeneck. Esta apresentação difere da que conhecemos hoje, uma vez que Berlioz revisou o trabalho durante anos e só veio a republicá-la em 1845.

 
É o trabalho mais conhecido de Berlioz e foi criado por inspiração de sua paixão pela atriz irlandesa Harriet Smithson, após vê-la representar o papel de Ofélia na peça Hamlet, de Shakespeare, no Teatro de Paris, em 1827, e também pela leitura de Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe. A obra é um marco na música francesa, pois inaugura o sinfonismo na França. Berlioz quebra a estrutura formal da sinfonia, formada de quatro movimentos, quando a apresenta com um movimento a mais. Berlioz redigiu um roteiro impresso em 1831 em que indicava o que o protagonista imaginava em cada movimento da obra. Para o autor, o artista, sob efeito do ópio, tem alucinações e estas são traduzidas em cinco situações indicadas através dos cinco movimentos.

 

 

 
A 11 de Setembro de 1827, em Paris, Hector Berlioz assistiu a uma representação teatral de William Shakespeare, uma das obras mais admiradas do que era o seu autor predileto. No papel da desventurada Ofélia atuava uma atriz irlandesa, Harriet Smithson, pela qual o músico se apaixonou perdidamente, ao ponto de conquistá-la, apesar de ele não falar nem uma palavra de Inglês, e ela o mesmo de francês, se ter transformado numa verdadeira obsessão. Fruto desse amor levado ao limite seria a Sinfonia Fantástica. A sua estreia a 5 de Dezembro de 1830 iria constituir uma das páginas mais recordadas da história da música ocidental. Havia apenas três anos que morrera, em Viena, o grande Ludwig van Beethoven, quando se estreou esta obra revolucionária. Levava o género sinfónico numa direção insólita, sobretudo no que respeita a uma orquestra que se converte na verdadeira protagonista, na intérprete de um drama que o compositor explicita claramente num programa literário, uma vez que não é em vão que a partitura ostenta o subtítulo “Episódios da vida de uma artista”; uma artista que sem dúvida alguma era o próprio criador. Como se dizia num programa que era distribuído à porta do Conservatório de Paris, no dia da estreia: “O objetivo do compositor foi desenvolver os aspetos musicais de diferentes situações da vida de um artista. O esquema do drama instrumental, privado da ajuda de palavras, precisa de uma exposição preliminar. O seguinte programa deve, pois, ser considerado um diálogo falante de uma obra, e serve para introduzir os números musicais e para motivar o seu caráter e expressão”. Este programa é muito simples: “um jovem músico, de uma sensibilidade doentia, envenena-se com ópio num arrebatamento de desespero amoroso. A dose da droga, demasiado pequena para o matar, mergulha-o num profundo sono acompanhado de estranhos desvaneios, em que as sensações, sentimentos e recordações se transformam, no seu cérebro doente, em imagens e ideias musicais. A própria amada aparece-lhe como uma melodia, como uma ideia fixa, uma ideia obsessiva, que ouve onde quer que vá.” A partir daí, acontece tudo o que em seguida se ouvirá.

 
O primeiro andamento intitula-se Sonhos e Paixões - ao longo dele, narram-se, sempre segundo as palavras do seu criador, “a doença da alma, o fluxo da paixão, as inenarráveis alegrias e penas que experimentaram antes de ter visto a sua amada; depois, o amor vulcânico que de repente lhe inspira, os seus êxtases delirantes, a sua fúria ciumenta, a sua persistente ternura, as suas consolações religiosas.”

 
O segundo andamento, intitulado Um Baile – “O artista, levado pelas circunstâncias mais diversas da vida, vê-se no meio do tumulto de uma festa. Mas até mesmo ali, a imagem querida vem apresentar-lhe e perturbar a sua alma.”

 
O terceiro andamento, A Cena no Campo – um maravilhoso adagio que mostra a dívida de Berlioz para com a Sinfonia “Pastoral”, de Beethoven. “Numa tarde de Verão, no campo, o artista ouve dois pastores que dialogam cantando. Este dueto pastoral, o local de cena, o ligeiro murmúrio das árvores agitadas pelo vento, um motivo de esperança que desde há pouco começou a conceber, tudo concorre para restaurar no seu coração uma calma inusitada, para dar um tom mais alegre às suas ideias; mas ela aparece de novo e o jovem sente outra vez uma forte opressão no peito; agitam-no dolorosos pressentimentos; se ela o enganasse… um dos pastores repete a ingénua melodia, mas o outro já não responde. O sol põe-se. Ao longe, ruídos dos trovões, solidão, silêncio…”

 
O quarto andamento, Marcha para o Suplício – um allegretto demoníaco que se desenvolve num implacável crescendo que constitui um perfeito catálogo das habilidades orquestrais e teatrais de Berlioz: afeitos de boca nas trompas, contrabaixos divididos, duplo par de timbales; tudo isso contribui para criar um clima de pesadelo, de horror e de loucura que culmina no aparecimento, no clarinete, da “ideia fixa”, antes de um brutal acorde de toda a orquestra, seguido do rufar da caixa e dos timbales, conceda passagem à pancada com que a guilhotina ceifa a vida do artista; mas este não morreu, no seu delírio “imagina-se agora num sabbat, no meio de uma horrível reunião de sombras, bruxas e monstros, reunidos para celebrar o seu funeral. Ruídos estranhos, gemidos, risadas, gritos distantes a que outros gritos parecem responder. A melodia amada reaparece de novo, mas perdeu o seu carater de nobreza e timidez; não é mais do que o motivo de dança ignóbil, vulgar e grotesco. É ela que vem também ao sabbat. A amada junta-se à orgia diabólica. Badaladas fúnebres, paródia burlesca do Dies irae…”

 
O quinto andamento com que termina a sinfonia – Sonho de uma Noite de Sabbat – contém o melhor e o pior do estilo do músico francês. A introdução a este andamento, por exemplo, é um quadro sonoro extraordinário (o próprio Berlioz dizia que “a instrumentação, na música, equivale exatamente às cores na pintura”). Três toques de sino preparam a entrada do tema do Dies irae, extraído da missa gregoriana de defuntos, a cargo das tubas e dos fagotes e depois dos trombones e trompas, sobre as notas arrastadas e ásperas dos contrabaixos. Segue-se a dança do sabbat, pura confusão sonora, em que Berlioz acumula audazes combinações harmónicas, inusitadas relações rítmicas, inauditas formas de tratar os instrumentos (por exemplo, o col legno das cordas, que têm de ser percutidas com a madeira dos arcos). Tudo isto até terminar numa coda que conduz a música ao paroxismo.


Flávia Oliveira - a63604

 

 

 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Efeito da Música em Laranja Mecânica


Até que ponto a música comanda as nossas vidas?




          Desde quando é que a música influencia as nossas vidas? Desde sempre. Resta saber utilizar e manipular a música para um efeito desejado. Stanley Kubrick soube fazê-lo em A Clockwork Orange.
          Laranja Mecânica (tradução para português) é um filme de 1971 realizado por Stanley Kubrick, realizador americano (1928-1999), muito polémico na altura e que ainda hoje cria um efeito estranho nos espectadores.
        Esta obra-prima do cinema foi inspirada no romance de Anthony Burgess, escrito em 1962 e retrata a vida do jovem Alex (protagonizado por Malcolm McDowell), adolescente viciado e atraído para a ultra-violência, sexo, violação, e boa música, especialmente Ludwig van Beethoven. Em diversas partes do filme, Alex tem vontades súbitas motivadas pela música que ouve em seu redor, que vão influenciar o seu comportamento, ou pensamento (possivelmente destrutivo e obscuro), nos  minutos seguintes.
  
          Ao longo de todo o filme o espectador sente emoções fortes e distintas, porém, algumas delas não deviam ser associadas às determinadas alturas do filme que as suscitam, o que faz pensar... Na verdade, por que se haveria de sentir empatia por um vândalo que destrói, viola mulheres e espanca vagabundos? Todas as emoções que o público sente, e que provavelmente não seriam as eticamente mais aceitáveis, têm como causa, com toda a certeza, a música escolhida ao longo de toda a obra (para além do génio de Kubrick, claro!).
          
         A banda sonora original deste filme foi escolhida a dedo, tendo como faixas algumas das obras mais conhecidas do reportório da música erudita de compositores como Beethoven (nona sinfonia), Rossini (Abertura William Tell), Elgar (Pomp and Circumstance), entre outros. O resto das faixas foram compostas por Wendy Carlos (criador da banda sonora original do filme) e outras ainda foram retiradas de alguns clássicos do cinema anteriores ou simplesmente músicas antigas, contudo associadas a um género provavelmente oposto ao do Laranja Mecânica como «Singin' in the Rain» música do final dos anos 20 do séc. XX, resultando então num efeito de paródia.



          Tomemos então como exemplo a cena do filme em que Alex, que está a pensar há algum tempo, decide parar de o fazer para simplesmente mostrar aos seus parceiros quem lidera o gang, inspirado pela música que está a ouvir vinda de uma janela aberta:


        Verificamos então que a música que Rossini compôs para a sua ópera La Gazza Ladra, serve desta vez como apoio na decisão de Alex, que inspirado no seu tempo de valsa, decide bater nos seus parceiros com bastante prazer...
           

        Neste excerto, Alex e o seu bando assaltam uma casa e violam a mulher, esposa do homem que vai assistir a toda a violação com os seus olhos... A meu ver, o mais surpreendente nesta cena é a felicidade e euforia que Alex e o gang demonstram ao cometer esta atrocidade. Ao invadirem o lar deste casal, teoricamente um local de paz e segurança, estão desde logo a causar uma sensação de medo, pois já nem a própria casa é um local seguro. No entanto, o público que vê o filme não reage assim, aliás, pode até não saber como reagir ao absurdo do que está a acontecer:







          Neste terceiro vídeo, Alex ouve a 9.ª sinfonia de Beethoven (que deu origem ao hino da alegria), provavelmente a música que lhe traz à mente aquilo que é mais importante para ele. O adolescente ouve esta música como recompensa daquilo que fez na noite passada e sonha com imagens de violência e morte, tendo um prazer muito característico da personalidade da personagem Alex.






           Mais tarde "o nosso humilde narrador" é submetido a uma terapia revolucionária que acabará com as suas vontades malignas contra a sociedade. Contudo, durante uma das sessões, a música de fundo é a 9.ª de Beethoven, e de um momento para outro, a sua música favorita, que tanto prazer lhe dava, tornou-se a sua maldição, de tal forma que  tentou suicidar-se ao ouvi-la depois do tratamento a que foi submetido:



domingo, 24 de junho de 2012

Romeu e Julieta



                              Romeu e Julieta


Neste trabalho procuro mostrar a ligação entre a obra literária de William Shakespeare e as obras de arte que se lhe seguiram, tendo como base esta tragédia, intitulada de “ Romeu e Julieta”.

“Romeu e Julieta” é uma tragédia literária do famoso escritor William Shakespeare, que foi escrita nos primórdios da sua carreira literária em 1591. Retrata a vida de dois adolescentes loucamente apaixonados, cuja morte acaba por unir suas famílias, outrora em pé de guerra. Este romance trágico pertence a uma tradição de romances da antiguidade. Seu enredo baseia-se num conto italiano que foi traduzido em versos por Arthur Brooke (poeta inglês) em 1562, e retomado em prosa por William Painter (autor inglês) em 1582. Esta obra é tão especial e reconhecida mundialmente devido á habilidade dramática e maturidade artística de Shakespeare, que utilizou nesta obra efeitos como a comutação entre comédia e tragédia, ênfase nas personagens mais secundárias e a utilização se sub-enredos para embelezar a história. De todas as obras de Shakespeare, a peça dos dois amantes é um dos seus trabalhos que mais foram ilustrados. É uma das obras literárias mais utilizadas, sendo adaptada nos campos do cinema, da música e literatura.

                             







Sinopse

  
A peça abre na rua com o desentendimento entre os Montecchios, família de Romeu, e os Capuletos, família de Julieta. O Príncipe de Verona intervém e declara que irá punir com morte as pessoas que colaborarem para mais uma briga de ambas as famílias. Mais tarde, Julieta é proposta em casamento a seu pai, mas este não aceita e diz ao pretendente para esperar dois anos, pois Julieta ainda era muito nova para casar, tinha apenas 13 anos, e que realizaria uma festa balett. Após a briga, Romeu entra em depressão resultado de um amor não-correspondido por uma das sobrinhas de Capuleto. Persuadido, Romeu atende ao convite da festa que acontecerá na casa dos Capuletos em esperança de encontrar-se com a sobrinha de Capuleto. Contudo, Romeu apaixona-se perdidamente por Julieta. Após a festa, Romeu pula o muro do pátio dos Capuletos e ouve as declarações de amor de Julieta, apesar de seu ódio pelos Montecchios. Romeu e Julieta decidem casar.
Com a ajuda de Frei Lourenço - esperançoso da reconciliação das famílias através da união dos dois jovens - eles conseguem se casar secretamente no dia seguinte. Um dos primos de Julieta, Teobaldo, sentindo-se ofendido pelo facto de Romeu ter fugido da festa, desafia-o para um duelo. Romeu, que agora considera-o seu companheiro, recusa lutar com ele. Seu amigo Mercúrio sente-se incentivado a aceitar o duelo em nome de Romeu por conta de sua "calma submissão, vil e insultuosa". Durante o duelo, Mercúcio é fatalmente ferido e Romeu, irritado com a morte do amigo, prossegue o confronto e mata Teobaldo. O Príncipe decide exilar Romeu de Verona por conta do assassinato salientando que, se ele retornar, terá sua última hora. Capuleto, interpretando erroneamente a dor de Julieta, concorda em casá-la imediatamente com o Conde Paris (a quem tinha feito a promessa de casamento) e ameaça deserdá-la quando ela recusa-se a tornar-se a "alegre noiva" de Páris. Quando ela pede, em seguida, o adiantamento do casamento, a mãe rejeita-lhe. Quando escurece, Romeu, secretamente, passa toda a noite no quarto de Julieta, onde eles consumam seu casamento.

No dia seguinte, Julieta visita Frei Lourenço pedindo-lhe ajuda para escapar do casamento, e o Frei lhe oferece um pequeno frasco. O frasco, se ingerido, faz com que a pessoa durma e fique num estado semelhante a morte, em coma por "duas horas e quarenta". Com a morte aparente, os familiares pensarão que a Julieta está morta e, assim, ela não se casará indesejadamente. Por fim, Lourenço promete que enviará um mensageiro para informar Romeu, ainda em exílio, do plano que irá uni-los e, assim, fazer com que ele retorne para Verona no mesmo momento em que a jovem despertar. Na noite antes do casamento, Julieta toma o remédio e, quando descobrem que ela está "morta", colocam seu corpo na cripta da família.




A mensagem, contudo, termina sendo extraviada e Romeu pensa que Julieta realmente está morta quando o criado Baltasar lhe conta o ocorrido. Amargamente, o protagonista compra um veneno fatal de um boticário que encontra no meio do caminho e dirige-se para a cripta dos Capuletos. Por lá, ele defronta-se com a figura de Páris. Acreditando que Romeu fosse um vândalo, Páris confronta-se contra o desconhecido e, na batalha, o segundo dos dois assassina o outro. Ainda acreditando que sua amada está morta, ele bebe a poção. Julieta acaba acordando e, descobrindo a morte de Romeu, suicida-se com o punhal dele, vendo que a poção do moço não possuía mais nenhuma gota. As duas famílias e o Príncipe se encontram na tumba descobrem os três mortos. Frei Lourenço reconta a história do amor impossível dos jovens para as duas famílias que agora se reconciliam pela morte dos seus filhos. A peça termina com a elegia do Príncipe para os amantes: "Jamais história alguma houve mais dolorosa / Do que a de Julieta e a do seu Romeu."


                              





 Música

Séculos mais tarde, vários compositores escreveram obras musicais sobre esta tragédia. Pyotr llyich Tchaikovsky, compôs uma obra orquestral sobre este romance trágico, em 1869, tornando-a numa das obras mais conceituadas de toda a História da Música. É um poema sinfónico que contém uma melodia conhecida como “tema de amor”, a qual foi bastante utilizada, exemplo o filme de Nino Rota sobre esta obra literária, e pela cantora Des’ree’s na música “Kissing you”. Outros compositores escreveram também obras musicais com base nesta peça, é o caso de Prokofiev com o seu ballet “ Romeu e Julieta” (1940), a “sinfonia dramática” de Berlioz “ Roméo et Juliette” (1839), existem cerca de 24 óperas, sendo a mais conhecida a de Gonoud “ Roméo et Juliette” (1887) e até na musica contemporânea não erudita esta peça já é utilizada nos estilos musicais como o jazz, musica popular…









 Literatura e Arte

A célebre peça de Shakespeare também influenciou escritores por toda a parte do mundo, posteriores a si. Nas palavras de Harold Bloom (professor e crítico literário) Shakespeare “ inventou a fórmula pelo qual o elemento sexual ficou associado com o elemento erótico quando atravessa as sombras da morte." Esta obra serviu como base a obras muito distintas, algumas até paródias sobre esta mesma. Henry Porter, com “ As Duas Furiosas Mulheres de Abingdon” (1598), e Thomas Dekker, com “Master Constable”, parodiaram a obra original de Shakespeare na mesma época em que este a escreveu. Mais posteriormente, escreveram autores como Charles Dickens, com o romance “Nicholas Nickleby” e o Visconde de Taunay, também com um romance intitulado de “Inocência”( facto curioso, em que cada capítulo desta obra começa com citações de Goethe, Rosseau, Cervantes, Ovídio, Moliére e Walter Scott). Em Portugal Camilo Castelo Branco publicou “Amor de Perdição” em 1862. Talvez por tratar-se de uma obra pertencente ao estilo ultra romântico português, esta obra assemelha-se com a obra de Shakespeare na medida em que existem também duas famílias com desavenças, em que os protagonistas amam-se loucamente e acaba também com um fim trágico. O romance do Visconde Taunay foi publicado apenas dez anos mais tarde que a obra de Camilo Castelo Branco, e assemelha-se muito com esta obra.


                             



 Na arte a primeira ilustração desta obra julga-se que pertence a Elisha Kirkall, uma xilogravura que retrata a cena final do túmulo, cuja primeira impressão foi em 1709 numa das edições produzidas por Nicholas Rowe, das peças de William Shakespeare. Mais tarde, no séc. XVIII, a Galeria Boydell Shakespeare encomendou cinco pinturas da peça que retratassem cada um dos cinco actos.

                 


Cinema

É talvez a peça mais transportada para as estruturas cinematográficas de todos os tempos. Romeu e Julieta foi pela primeira vez gravado na era do cinema mudo por Georges Méliès, embora seu vídeo esteja perdido hoje em dia. A primeira versão cinematográfica da peça no cinema falado foi em “The Hollywood Revue of 1929”.
 Houve várias produções sobre esta peça de Shakespeare, mais as mais famosas são:
- “Romeo and Juliet” de George Cukor, é uma produção de 1936, a preto e branco, vencedor de um Óscar em 1937. Foi uma produção não muito aclamada pela crítica e pelo público, acusavam-na de um artificialismo.
- “Romeo and Juliet” de Franco Zeffirelli, uma produção de 1968, esta produção já foi melhor vista pelo público e pela crítica, o estudioso Stephen Orgel descreve este filme como “cheio de beleza e juventude, com câmaras e luzes exuberantes, que contribuíram para a impressão da energia sexual e da boa aparência da peça.”.
-“Romeu + Juliet” de Baz Lurhmann, uma produção de 1996, atraiu para si um público mais jovem devido á sua maior obscuridade em relação ao filme de Zeffirelli.
As versões de Franco Zeffirelli e de Baz Luhrmann foram as versões que mais recordes de venda alcançaram. Mais recentemente, existem filmes que são um pouco o retrato da história de amor vivida por Romeu e Julieta, mas adaptado aos dias de hoje. É o caso do filme do brasileiro Bruno Barreto, intitulado de “O casamento de Romeu e Julieta”. Retrata a história de duas famílias que eram rivais, mas porque torciam por equipas de futebol diferentes, neste caso o Palmeiras e o Corinthians. Outro filme é o filme da Disney “ High School Musical”, onde utilizam o enredo de Romeu e Julieta, este em género de musical.


     





                                        







                                                                                 Trabalho realizado por:
                                                                                 João Tiago Cunha – A65952

terça-feira, 19 de junho de 2012

A LENDA DE FAUSTO E AS SUAS APARIÇÕES NA ARTE



Temas como a natureza do homem, as influências sobrenaturais, a solidão, o jogo da vida, o individualismo, o sucesso, o sentimento de amor, a culpa, a morte, as crenças religiosas, a eternidade, o céu e o inferno, Deus e o diabo, o triunfo da vida, entre outros, estão presentes na lenda de Fausto. Baseado no Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540), médico, mágico e alquimista alemão, Fausto é a personagem que identifica a popular lenda alemã e que Goethe tornou conhecida e alvo de interesse por diversas artes.

NA LITERATURA

A obra de Goethe catapultou Fausto para a fama no século XIX. Esta obra, um poema épico, editada em dois volumes, o primeiro e mais conhecido em1806 e o segundo em 1832. Pode resumir-se a historia nos seguintes aspetos:
O Anjo e o demónio fazem uma aposta (será que Mefistófeles consegue a alma de Fausto?). Mefistófeles (o demónio) seduz Fausto com a juventude e com o conhecimento em troca da sua alma. Fausto, que estava desiludido com os seus fracassos e ansioso por superar os conhecimentos da época, aceita a troca. Mefistófeles, com o seu poder maléfico, retira décadas de rugas ao rosto de Fausto e proporciona-lhe aventuras inimagináveis. Fausto está deliciado com a sua nova vida mas começa a ter saudades da sua terra natal, pelo que Mefistófeles o acompanha no seu regresso à cidade natal. Aí, Fausto apaixona-se por Margarida, e é ajudado pelo seu endiabrado companheiro na conquista da amada. No entanto, Mefistófeles conjura contra Fausto e revela o “caso” ao irmão de Margarida, Valentim. Valentim, encontrando-os em plena demonstração da sua paixão, ataca Fausto. Fausto defende-se e Mefistófeles, cobardemente, desfere um golpe fatal a Valentim e, maldosamente anuncia à cidade que Valentim morreu pela espada de Fausto. Antes do último suspiro, Valentim denuncia o caso da irmã com Fausto, que entretanto foge da cidade, arrastado pelo Diabo. A mãe de Margarida morre de desgosto. Margarida, esperando um filho de Fausto, depois de perder tudo, é condenada à fogueira. Fausto arrepende-se, volta à cidade, e vendo Margarida na fogueira renuncia ao pacto que fez com o senhor do inferno. Quebra-se o pacto e as rugas e cabelos brancos desgrenhados regressam a Fausto. Margarida olha para o fausto velho, reconhece-o.Fausto lança-se à fogueira onde Margarida está e libertam o seu amor.
O tema foi revisitado varias vezes e em vários estilos literários por escritores como Nikolaus Lenau, Fernando Pessoa e Thomas Mann. Este ultimo, revisitou o tema no seu livro Dr. Faustus, e a personagem principal (Fausto) é agora um compositor chamado AdrianLeverkühn, que assina o pacto demoníaco para ter um avanço na sua arte. A imagem de Adrian Leverkühn como compositor é baseado em Arnold Schoenberg e o avanço artístico não é mais do que o sistema de composição dodecafônico.


NA MÚSICA

Este tema épico tem sido explorado por vários compositores desde o êxito da obra de Goethe. Começando por Beethoven, que dispensa apresentações, até ao grupo Muse, todos se debruçaram sobre o tema e transcreveram para sons o rol de sentimentos e a acção narrativa da história. Segue-se alguns compositores/autores que fizeram um pacto com Fausto e Mefistófeles para musicar a sua história:

2. Louis Spohr, Faust 1813
3. Franz Schubert, Gretchen am Spinnrade 1814
4. Richard Wagner, Faust Overture 1840
5. Peter J von Lindpaintner, Faust Overture 1840
7. Charles Valentin Alkan, Grand Sonata 1848
8. Robert Schumann, Scenes from Goethe’s Faust 1853
9. Franz Liszt, Faust Symphony & Two Scenes from Lenau’s Faust 1854-57
10. Charles Gounod, Faust 1859
12. Arrigo Boito, Mephistopheles 1868
13. Florimond Louis Hervé, Le Petit Faust 1869
14. Pablo de Sarasate, Faust Fantasy 1874
15. Modest Mussorgsky, Mephistopheles’ Song of the Flea 1879
16. Heinrich Zöllner, Faust 1887
17. Gustav Mahler, Symphony No. 8 1906-07
18. Richard Thiele, Faust and Gretchen: A Comic Sketch
19. Ferruccio Busoni, Doktor Faust 1916-25
20. Igor Stravinsky, Soldier’s Tale 1918
21. Sergei Prokofiev, The Fiery Angel 1919-26
22. Jan Bouws,Lied van dieVlooi 19--
23. Havergal Brian, Faust 1955-56
25. Konrad Boehmer, Doktor Faustus 1983
26. Alfred Schnittke, Faust Cantata & Historia von Doktor Johann Fausten1983/1994
27. Charlie Daniels Band, The Devil Went Down to Georgia 1979
28. The Fall, Faust Banana 1986
29. Randy Newman, Faust 1993
30. Art Zoyd, Faust 1993-95

O tratamento musical dado ao tema foi evoluindo ao longo dos anos como reflexoda época musical e das suas características.O uso de dissonâncias para caracterizar o mal e o recurso a tríades perfeitas na representação do bem, são principalmente demonstradas pelos autores até ao século XX. Acordes dissonantes, temas no registo grave, ritmos fortes, passagens bruscas das dinâmicas, entre outros, são exemplos de recursos usados para representar o mal. Nada melhor que estes recursos musicais para descrever o inferno, habitualmente assumido como um lugar profundo e fechado, com lotação esgotada e com seres horrendos e mal formados. Este inferno terá sempre uma luz vermelha, uma técnica usada nas artes plásticas e no cinema para a representação do mal. A felicidade, o sorriso, a compaixão, ou seja, o bem, é sonorizada com acordes perfeitos, melodias simples, uma orquestração muito equilibrada, leveza de ritmos etc., dando a ideia de céu, de espaço sem fim, de harmonia. A cor azul, etérea, a cor do céu, é usada para representação plástica do bem. Conciliando estas duas representações, dissonância + vermelho = mal e acordes perfeitos + azul = bem, obtém-se uma ferramenta poderosíssima de comunicação, que é sobejamente utilizada no cinema e na publicidade.

NO CINEMA

Com o advento do cinema, no século passado, a épica e trágica história de Fausto adaptava-se perfeitamente ao grande ecrã. Sendo transposta quase literalmente para o cinema ou em fragmentos/ideias base, tem sido sistematicamente reproduzida até aos dias de hoje. Filmes como O Advogado do Diabo (1997), Parnassus - O Homem Que Queria Enganar o Diabo (2009) ou mesmo Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith (2005) são sucessos de bilheteira que beberam directamente ou indirectamente da fonte do Dr. Johannes Georg Faust. Faust, um filme mudo de F.W. Murnau de 1926, sua última realização em território alemão e baluarte do expressionismo, reproduziu em filme, com diferenças, a obra de Goethe. Nos seguintes excertos, tentou-se expressar musicalmente a narrativa do filme (Faust), através de algumas composições dos autores supramencionados. 


Este video retrata o primeiro encontro e a sedução de Mefistófeles com Fausto. A música é de Henri Pousser, Votre Faust.


Fausto (depois de ficar novo e viver as aventuras inimagináveis) fica com saudades de casa.
Liszt acompanha com a sua Sinfonia Fausto. 

Não só a literatura, a música e a sétima arte usaram esta epopeia sobrenatural. Assim fica uma lista de obras, em todas as expressões artísticas, em que o tema era Fausto, nalguns de uma forma clara e óbvia e outros a exigirem atenção redobrada para descobrir Onde Está O Fausto.

Paulo Jorge Miranda Araújo
a66255

Fontes documentais:
Corder, F.(1886).The Faust Legend, and Its Musical Treatment by Composers: 
The Musical Times and Singing Class Circular, Vol 27
Roos, Dorette Maria (2010), "The Faust legend and its musical manifestations: A historical overview", Tese de mestrado em Música. Matieland, South Africa: Stellenbosch University

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O uso de músicas mais famosas em publicidade, no âmbito da música erudita

 



O objetivo da publicidade é chamar a atenção do público para qualquer produto que está para ser lançado ou que já está no mercado, de forma que os consumidores o adquiram. O seguinte trabalho tem como estudo três publicidades, que têm como base músicas eruditas.
A primeira publicidade é sobre um computador touch e que tem como base uma parte do “Verão” das Quatro Estações de Vivaldi. Esta é uma das composições de Vivaldi mais conhecidas, mesmo por leigos, e que pelo ser caracter orquestral intenso demonstra confiança e liberdade. Confiança da compra do produto, como também a libertação dos computadores que não são portáteis, podendo levá-los para qualquer lado sem quaisquer problemas de manuseamento. (Ver em anexo 1º vídeo).
A segunda publicidade tem como produto um carro da marca Audi. A publicidade em si é muito caricata, tendo como base uma Toccata de Mozart muito aclamada, mas que está a ser tocada por garrafas de vidro com água. Paralelamente com a música, o carro vai andando a uma velocidade normal, e quando a música fica num andamento mais rápido, o carro também anda a uma velocidade maior, passando obstáculos quando os triolos acontecem, até que, chegando a um climax, o carro tem que parar porque tem uma pequena garrafa de vidro na estrada, terminando aí a sua viagem. Deste modo, o carro transmite uma segurança em casos de perigo, como também controlo absoluto, que por outro lado, é o que transmite a música de Mozart, uma série de obstáculos contornáveis, com partes mais técnicas e rápidas, que necessitam de estar seguras e outras mais serenas e relaxadas, que são mais confortáveis. (Ver em anexo 2º vídeo).
A terceira publicidade, e de longe a mais sensibilizadora tem como fundo o Cannon de Pachelbel. Esta é sobre o champô Pantene, mas tem uma história. Retrata a vida de uma menina surda que aprende violino e que vence todas as dificuldades, fazendo um concerto no final de tudo. Penso que o uso da música foi muito bem escolhido, pois o Cannon é uma das mais belas melodias que existem, e que ajudam a tocar no nosso lado mais profundo, conseguindo acompanhar a vida da jovem com alguma empatia. (Ver em anexo 3º vídeo).
Em conclusão, as músicas das publicidades são dificilmente escolhidas tendo em conta o conteúdo da publicidade, como também têm cuidado com as escolhas, pois as mais conhecidas chamam mais a atenção e transmitem afinidade, levando os consumidores a ficarem expectantes sobre o produto, indo talvez mais tarde a adquiri-los.

Trabalho Elaborado por:
Natália Machado – A66083
Licenciatura em Música


Homogeneidade do Romantismo nas Artes


 O Romantismo foi um movimento artístico e filosófico que teve origem no final do século XVIII, permanecendo por quase todo o século XIX na Europa.

Representou mudanças no plano individual, destacando a personalidade, a sensibilidade, a emoção e os valores interiores, caracterizando uma visão de mundo contrária ao racionalismo, que marcou o período neoclássico e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa.

A busca pelo exótico, pelo inóspito e pelo selvagem formaria outra característica fundamental do Romantismo. Exaltavam-se as sensações extremas, os paraísos artificiais, a natureza em seu aspecto mais bruto. Lançar-se em "aventuras" ao embarcar em navios com destino aos pólos, por exemplo, tornou-se uma forma de inspiração para alguns artistas. 

O pintor Inglês William Turner reflectiu este espírito em obras como “Mar em tempestade” onde o retrato de um fenómeno da Natureza é usado como forma de atingir os sentimentos supracitados.

As primeiras manifestações românticas na pintura ocorreram quando Francisco Goya passa a pintar depois de começar a perder a audição. Um quadro de temática neoclássica como Saturno devorando seus filhos, por exemplo, apresenta uma série de emoções para o espectador que o fazem sentir inseguro e angustiado. Goya cria um jogo de luz-e-sombra, linhas de composição diagonais e pinceladas "grosseiras" de forma a acentuar a situação dramática representada.

O Francês Eugène Delacroix é considerado um pintor romântico por excelência. Sua tela A Liberdade guiando o povo reúne o vigor e o ideal românticos em uma obra que se estrutura em um turbilhão de formas. O tema é ‘os revolucionários de 1830 guiados pelo espírito da Liberdade’ (retratados por uma mulher carregando a bandeira da França). O artista coloca-se metaforicamente como um revolucionário ao se retratar em um personagem da turba, apesar de olhar com uma certa reserva para os acontecimentos (reflectindo a influência burguesa no romantismo).

O Romantismo surge na literatura quando os escritores trocam o mecenato aristocrático pelo editor, precisando assim cativar um público leitor. Esse público estará entre os pequenos burgueses, que não estavam ligados aos valores literários clássicos e, por isso, apreciariam mais a emoção do que a subtileza das formas do período anterior.
Foi através da poesia lírica que o romantismo ganhou formato na literatura dos séculos XVIII e XIX. Os poetas românticos usavam e abusavam das metáforas, palavras estrangeiras, frases directas e comparações. Os principais temas abordados eram: amores platónicos, acontecimentos históricos nacionais, a morte e seus mistérios. As principais obras românticas são: Cantos e Inocência do poeta inglês William Blake, Os Sofrimentos do Jovem Werther e Fausto do alemão Goethe, Baladas Líricas do inglês William Wordsworth e diversas poesias de Lord Byron. Na França, destaca-se Os Miseráveis de Victor Hugo e Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas.
Na Dramaturgia o romantismo manifesta-se valorizando a religiosidade, o individualismo, o quotidiano, a subjectividade e a obra de William Shakespeare. Os dois dramaturgos mais conhecidos desta época foram Goethe e Friedrich von Schiller. Victor Hugo também merece destaque, pois levou várias inovações ao teatro. Em Portugal, podemos destacar o teatro de Almeida Garrett.
Na Música ocorre a valorização da liberdade de expressão, das emoções e a utilização de todos os recursos da orquestra. Os assuntos de cunho popular, folclórico e nacionalista ganham importância nas músicas.
As primeiras evidências do romantismo na música aparecem com Beethoven. Suas sinfonias, a partir da terceira sinfonia, revelam uma música com temática profundamente pessoal e interiorizada, assim como algumas de suas sonatas para piano também, entre as quais é possível citar a Sonata Patética. Outros compositores como Chopin, Tchaikovsky, Felix Mendelssohn, Liszt, Grieg e Brahms levaram ainda mais adiante o ideal romântico de Beethoven, deixando o rigor formal do Classicismo para escreverem músicas mais de acordo com suas emoções.
A Arquitectura do romantismo foi marcada por elementos contraditórios, fazendo dessa forma de expressão algo menos expressivo.
Entre os arquitectos mais reconhecidos desse período destacam-se Garnier, responsável pelo teatro da Ópera de Paris; Barry e Puguin, que reconstruíram o Parlamento de Londres; e Waesemann, na Alemanha, responsável pelo distrito neogótico de Berlim. Na Espanha deu-se um renascimento curioso da arte mudéjar na construção de conventos e igrejas, e na Inglaterra surgiu o chamado neogótico hindu.
Em suma, a arte romântica demonstrou grande importância, mesmo que indirectamente, em todas as vertentes artísticas, sendo possível observar até hoje características de seu movimento nas pinturas, na literatura, e até mesmo no pensamento colectivo, na difusão de suas ideias, e enfim, na arte de viver.







                                                                                                                                José Pereira
                                                                                                                                 a65968  

















As Quatro Estaçõe de Vivaldi, os seus Sonetos, e as pinturas de Marco Ricci

As Quatro Estaçõe de Vivaldi, os seus Sonetos, e as pinturas de Marco Ricci

   
Antonio Vivaldi
    Antonio Vivaldi, nasce em Veneza a 4 de Março de 1678 e morre em Viena a 28 de julho de 1741. Considerado um dos maiores músicos do período barroco, compôs cerca de 770 obras, entre as quais 477 concertos e 46 óperas. É conhecido popularmente como autor dos concertos para violino e orquestra “Le quattro stagioni”.

        Vivaldi foi muito mais do que um compositor barroco. Gostava de criar músicas com efeitos brilhantes: saltos largos de um registo para o outro, tentativas de descrever os fenômenos naturais como tempestades, vento e chuva; convida aves simulados; contrastes dramáticos de altas e suaves, ou de conjunto completo contra um instrumento de solo, e escalas que com “zoom” cima e para baixo como uma montanha russa. Ele viveu uma época em que as pessoas queriam ouvir apenas a música mais recente.

        Hoje, Vivaldi é recordado principalmente para o grande número de concertos para violino que ele escreveu (mais de 200). Mas, mesmo número que parece pequeno quando comparado com o total que ele escreveu para todos os instrumentos (cerca de 500), inclusice para bandolim, viola d´arco, oboé, flauta, fagote, violoncelo, trompa, flauta e trompete. Mas sem dúvida nenhuma que é nas “Quatro Estações” para concertos de violino que Vivaldi é reconhecido e relembrado.


As Quatro Estações:


        As Quatro Estações são um conjunto de quatro concertos para violino escritas por volta de 1720. Cada “estação” é uma obra em três movimentos que duram cerca de dez minutos.
Em ambas estas obras, encontramos simples e melódicas melodias, retratando o cantar, assobiar. Retratando principalmente chilros de animais, trazendo alegria e nitidez ou até tristeza e melancolia, mas sempre de forma simples e eficaz. O seu ritmo (andamento) varia tanto tanto de forma inesperada como de uma simples resolução. Baseando-se sempre no desejo do compositor ao retratar as “estações”.



Sonetos:

        Vivaldi também escreveu um soneto para descrever cada estação. O Soneto é uma espécie de poema complicado de se estruturar. Tem que ter um certo número de batidas em cada linha, um esquema de rimas específico e deve ter exactamente catorze versos. É o tipo de poema de um poeta talentoso que iria publicar a demonstrar o domínio da sua arte. E principalmente para integrar o contexto da sua obra musical.

Primavera

1º andamento
A primavera chegou
Os pássaros celebram a sua chegada com canções festivas
e riachos murmurantes são docemente afagados pela brisa
Relâmpagos, esses que anunciam a Primavera,
rugem, projectando o seu negro manto no céu,
para depois se desfazerem em silêncio
e os pássaros mais uma vez retomam as suas encantadoras canções.

2º andamento
No prado cheio de flores com ramos cheios de folhas
os rebanhos de cabras dormem e o fiel cão do pastor dorme a seu lado.

3º andamento
Levados pelo som festivo de rústicas gaitas de foles,
ninfas e pastores dançam levemente sobre a brilhante festa da Primavera.

Verão

1º Andamento
Sobre uma estação dura
de um sol escaldante o homem descansa,
descansa o rebanho e queima o pinheiro
Ouvimos a voz do cuco;
ouvem-se então as canções doces da pomba
Doces aragens agitam o ar ...
Mas os ventos ameaçadores de norte subitamente aparecem
o pastor treme temendo a violenta tempestade e o seu destino.

2º Andamento

O medo dos relâmpagos e ferozes trovões
roubam o descanso aos seus membros cansados
As moscas voam zumbindo furiosamente

3º Andamento

Infelizmente os seus receios estavam justificados
os trovões rugem e majestosamente cortam o milho e estragam o grão.

Outono

1º Andamento

O camponês celebra com canções e danças
a felicidade de uma boa colheita.
Instigado pelo licor de Bacus,
muitos acabam a festa dormindo.

2º Andamento

Todos esquecem as suas preocupações e cantam e dançam
O ar está temperado com prazer e
pela estação que convida tantos, tantos
a saírem do seu recobro para participarem e se divertirem.

3º Andamento

Os caçadores aparecem com a madrugada
com trompetes e cães e espingardas começando a sua caçada
A caça foge e eles seguem o seu rasto
Aterrorizada e cansada de tanto ruído
de espingardas e cães, a caça, ferida, morre.

Inverno

1º Andamento

Tremendo de frio, no meio de cortantes ventos
os dentes tremem de frio.

2º Andamento

Descansa contente na sala
enquanto os que estão fora são atingidos pela chuva que não para.

3º Andamento

Andamos com cuidado no caminho gelado com medo de escorregar e cair
depois voltamos abruptamente e com cuidado, mas caímos no chão e
atravessamos o gelo enquanto não se quebra
voltamos a sentir o cortante vento norte apesar das portas fechadas
isto é o inverno que não obstante tem as suas delícias.


Pinturas de Marco Ricci:

        As Quatro Estações foram inspiradas por quadros das estações do artista Marco Ricci. Ao ouvir as Quatro Estações de Vivalde, pode-se desfrutar da música conhecendo os seus retratos pictóricos. As “estações” tinham a intenção de ser um acréscimo a formas de arte da pintura e poesia. Que por um lado, estas não podendo realçar todas as sensações humanas, mas que na música já se podem encontrar, e bem nítidas.






















João Luís Rodrigues Ramos
Nº 65958

Quadros de uma Exposição

Este trabalho surge no âmbito da disciplina de Sociologia da arte, da licenciatura em música da universidade do Minho. Tem como principal propósito, mostrar a forte interinfluência entre a música e a pintura, e  estimular uma reflexão sobre como a aproximação das duas artes,  através da procura de analogias, de estabelecimento de equivalências entre o acústico e o visual, leva a uma convergência de tal maneira íntima entre si.
A escolha do tema, surge no seguimento de estar a trabalhar a obra “Quadros de uma exposição” de Mussorgsky, na disciplina de música de câmara, e considerar fenomenal o encontro entre as duas artes, nesta obra.

Quadros de uma exposição é uma suite para piano, composta por Modest  Petrovich Mussorgsky (1839-1881) em Junho de 1874. Ao visitar uma exposição póstuma de seu grande amigo, o pintor e arquitecto Viktor Hartmann  falecido em 1873 aos 39 anos vítima de aneurisma cerebral, Mussorgsky resolveu prestar uma homenagem ao seu amigo e escolheu dez das telas expostas numa galeria em São Petersburgo como inspiração. Compôs uma música para cada um dos quadros, interligando  por  meio de um tema central e quatro intermezzi (variações sobre a mesma melodia) aos quais deu o nome de Promenade:  “passeio”, que representa o trajecto dos visitantes pela mostra.
File:Viktor Gartman.jpgFile:Modest Musorgskiy, 1870.jpg
                                    Viktor Hartmann (1834-1873)          Modest Petrovich Mussorgsky (1839-1881)                       
Quadros de uma exposição descreve, em metáforas, através das notas do piano um passeio pela exposição de quadros, tendo os temas como guia.
A obra, explora a corrente folclórica russa e o estilo de piano é inovador em sua austeridade e ausência de tessitura. Composta numa época em que o piano era explorado como instrumento virtuosístico, permaneceu praticamente ignorada por vários anos. Mais tarde alguns compositores, nomeadamente Claude Debussy (admirador  confesso de Mussorgsky) dedicou-se ao estudo desta suíte.  Apresenta um carácter singular, sendo uma das mais originais criações que o romantismo deu a este instrumento.
Juntamente com Debussy, em muito contribuiu para a consagração da obra e popularidade  póstuma de Mussorgsky, o apoio de outro russo, o maestro Sergei Koussevitzky. Koussevitzky, encomendou ao francês Maurice Ravel uma nova orquestração para a obra, que em 1922 faz uma transposição exacta do espírito da obra, com total fidelidade à partitura original, aliando à profundidade criadora de Mussorgsky a genialidade orquestradora, sobejamente reconhecida, de MauriceRavel.

As obras artísticas, sobreviventes, de Hartmann que foram  usadas, por Mussorgsky como inspiração na montagem da sua suite, seus andamentos e links para audição :
            A obra estrutura-se da seguinte forma:
  1. ”Promenade” – Introdução – Allegro giusto, nel modo russico, senza allegrezza, ma poco sostenuto.
            http://www.youtube.com/watch?v=QaH0A_E_bRw   
  1. ”Gnomus” (Gnomo) – Sempre Vivo.
A figura ameaçadora de Chemomor fornece ecos distantes do The Gnome, primeira “foto” Mussorgsky da suite. “Design” original de Hartmann, há muito que desapareceu.
                                                                                                 

  1. ”Promenade” – Moderato comodo assai e con delicatezza.


  1. ”Il Vecchio Castello” (O Castelo Medieval) – Andante molto cantabile e con dolore.
Este andamento foi inspirado tendo como base uma representação de um castelo italiano.

  1. ”Promenade” – Moderato non tanto, pesante.
  1. ”Tuileries” (Tulherias) – Allegretto non troppo, cappricioso.
Imagens de Hartmann, o “Jardin des Tuileries”, perto do Louvre, em Paris. Crianças a discutir e a brincar no jardim foram provavelmente adicionadas pelo artista.

  1. ”Bydlo” (Carro de Bois) – Sempre moderato, pensante.
Comentário de Stasov: "Um carrinho polonês de enormes rodas, puxadas por bois."

  1. ”Promenade” – Tranquillo.

  1. ”Ballet des Petits Poussins dans leurs Coques” – Schernizo.
Hartmann desenhou 17 trajes e cenografia para o balé Trilby, quatro dos quais subsistem.
  1. Two Jews, one rich and the other poor -”Samuel Goldenberg et Schmuyle” – Andante grave, energico.
Mostram "um judeu rico, vestindo um chapéu de pele: Sandomir" e "pobre Sandomir judeu". Este foi um andamento na suíte que o compositor não deu um  título e por algum tempo, era conhecido apenas como "dois judeus poloneses". Hartmann aparentemente tinha feito outro desenho intitulado Samuel Goldenburg e Schmuyle. Especula-se que o compositor amigo e patrono Vladimir Stassov  por  enganado,  colocou  este quadro como inspiração para o andamento e deu o nome após a morte de Mussorgsky.
  1. ”Promenade” – Allegro giusto, nel modo russico, poco sostenuto.

  1. ”Limoges, Le Marché” (O Mercado em Limoges) - Allegretto vivo, sempre scherzando.
Limoges é uma cidade da França central.Mussorgsky originalmente descreveu uma discussão no mercado…


  1. ”Catacombs, Sepulcrum Romanum” (Catacumbas, Sepulcro Romano) – Largo.
Este é um auto-retrato do autor nas catacumbas romanas sob as ruas de Paris. No catálogo da exposição lê-se: “interior das catacumbas de Paris, com figuras de Hartmann, o arquitecto Kenel e o guia com uma lâmpada.”


  1. "Cum Mortuis in Língua Mortua" (Com os Mortos em Língua Morta) - Andante non troppo, com lamento.
  1. ”La Cabane de Baba-Yaga sur de Pattes de Poule” (A Cabana de Baba-Yaga sobre Patas de Galinha) – Allegro com brio, feroce. Andante mosso. Allegro molto.
Design de Hartmann para um relógio de bronze, a morada da feiticeira Baba Yaga.


  1. ”La Grande Porte de Kiev” (A Grande Porta de Kiev) – Allegro alla breve. Maestoso. Con grandezza.

A grande porta de kiev, um dos exemplos mais conseguidos do programatismo musical, ao retratar com tanta precisão a magnificência de uma construção arquitectónica.
                       http://www.youtube.com/watch?v=uM-ZpfwZMps


Link para um exemplo da orquestração de Maurice Ravel de “Os quadros de uma Exposição”.  http://www.youtube.com/watch?v=JSc6y4nLTyE
O presente trabalho pretendeu, de certa forma, apresentar duas artes reunidas, a  correspondência entre dois sentidos, a visão e o som. Uma interinfluência entre a música e pintura.
  
Bibliografia:
ENCICLOPÉDIA SALVAT DOS GRANDES COMPOSITORES. Volume 4/5: Publicações Alfa, 1983
SADIE, Stanley - The new grove dictionary of music and musicians. Volume 12: Macnillan Publishers Limited, 1980

Alberto José Rocha Barros – A66254