segunda-feira, 18 de junho de 2012

Quadros de uma Exposição

Este trabalho surge no âmbito da disciplina de Sociologia da arte, da licenciatura em música da universidade do Minho. Tem como principal propósito, mostrar a forte interinfluência entre a música e a pintura, e  estimular uma reflexão sobre como a aproximação das duas artes,  através da procura de analogias, de estabelecimento de equivalências entre o acústico e o visual, leva a uma convergência de tal maneira íntima entre si.
A escolha do tema, surge no seguimento de estar a trabalhar a obra “Quadros de uma exposição” de Mussorgsky, na disciplina de música de câmara, e considerar fenomenal o encontro entre as duas artes, nesta obra.

Quadros de uma exposição é uma suite para piano, composta por Modest  Petrovich Mussorgsky (1839-1881) em Junho de 1874. Ao visitar uma exposição póstuma de seu grande amigo, o pintor e arquitecto Viktor Hartmann  falecido em 1873 aos 39 anos vítima de aneurisma cerebral, Mussorgsky resolveu prestar uma homenagem ao seu amigo e escolheu dez das telas expostas numa galeria em São Petersburgo como inspiração. Compôs uma música para cada um dos quadros, interligando  por  meio de um tema central e quatro intermezzi (variações sobre a mesma melodia) aos quais deu o nome de Promenade:  “passeio”, que representa o trajecto dos visitantes pela mostra.
File:Viktor Gartman.jpgFile:Modest Musorgskiy, 1870.jpg
                                    Viktor Hartmann (1834-1873)          Modest Petrovich Mussorgsky (1839-1881)                       
Quadros de uma exposição descreve, em metáforas, através das notas do piano um passeio pela exposição de quadros, tendo os temas como guia.
A obra, explora a corrente folclórica russa e o estilo de piano é inovador em sua austeridade e ausência de tessitura. Composta numa época em que o piano era explorado como instrumento virtuosístico, permaneceu praticamente ignorada por vários anos. Mais tarde alguns compositores, nomeadamente Claude Debussy (admirador  confesso de Mussorgsky) dedicou-se ao estudo desta suíte.  Apresenta um carácter singular, sendo uma das mais originais criações que o romantismo deu a este instrumento.
Juntamente com Debussy, em muito contribuiu para a consagração da obra e popularidade  póstuma de Mussorgsky, o apoio de outro russo, o maestro Sergei Koussevitzky. Koussevitzky, encomendou ao francês Maurice Ravel uma nova orquestração para a obra, que em 1922 faz uma transposição exacta do espírito da obra, com total fidelidade à partitura original, aliando à profundidade criadora de Mussorgsky a genialidade orquestradora, sobejamente reconhecida, de MauriceRavel.

As obras artísticas, sobreviventes, de Hartmann que foram  usadas, por Mussorgsky como inspiração na montagem da sua suite, seus andamentos e links para audição :
            A obra estrutura-se da seguinte forma:
  1. ”Promenade” – Introdução – Allegro giusto, nel modo russico, senza allegrezza, ma poco sostenuto.
            http://www.youtube.com/watch?v=QaH0A_E_bRw   
  1. ”Gnomus” (Gnomo) – Sempre Vivo.
A figura ameaçadora de Chemomor fornece ecos distantes do The Gnome, primeira “foto” Mussorgsky da suite. “Design” original de Hartmann, há muito que desapareceu.
                                                                                                 

  1. ”Promenade” – Moderato comodo assai e con delicatezza.


  1. ”Il Vecchio Castello” (O Castelo Medieval) – Andante molto cantabile e con dolore.
Este andamento foi inspirado tendo como base uma representação de um castelo italiano.

  1. ”Promenade” – Moderato non tanto, pesante.
  1. ”Tuileries” (Tulherias) – Allegretto non troppo, cappricioso.
Imagens de Hartmann, o “Jardin des Tuileries”, perto do Louvre, em Paris. Crianças a discutir e a brincar no jardim foram provavelmente adicionadas pelo artista.

  1. ”Bydlo” (Carro de Bois) – Sempre moderato, pensante.
Comentário de Stasov: "Um carrinho polonês de enormes rodas, puxadas por bois."

  1. ”Promenade” – Tranquillo.

  1. ”Ballet des Petits Poussins dans leurs Coques” – Schernizo.
Hartmann desenhou 17 trajes e cenografia para o balé Trilby, quatro dos quais subsistem.
  1. Two Jews, one rich and the other poor -”Samuel Goldenberg et Schmuyle” – Andante grave, energico.
Mostram "um judeu rico, vestindo um chapéu de pele: Sandomir" e "pobre Sandomir judeu". Este foi um andamento na suíte que o compositor não deu um  título e por algum tempo, era conhecido apenas como "dois judeus poloneses". Hartmann aparentemente tinha feito outro desenho intitulado Samuel Goldenburg e Schmuyle. Especula-se que o compositor amigo e patrono Vladimir Stassov  por  enganado,  colocou  este quadro como inspiração para o andamento e deu o nome após a morte de Mussorgsky.
  1. ”Promenade” – Allegro giusto, nel modo russico, poco sostenuto.

  1. ”Limoges, Le Marché” (O Mercado em Limoges) - Allegretto vivo, sempre scherzando.
Limoges é uma cidade da França central.Mussorgsky originalmente descreveu uma discussão no mercado…


  1. ”Catacombs, Sepulcrum Romanum” (Catacumbas, Sepulcro Romano) – Largo.
Este é um auto-retrato do autor nas catacumbas romanas sob as ruas de Paris. No catálogo da exposição lê-se: “interior das catacumbas de Paris, com figuras de Hartmann, o arquitecto Kenel e o guia com uma lâmpada.”


  1. "Cum Mortuis in Língua Mortua" (Com os Mortos em Língua Morta) - Andante non troppo, com lamento.
  1. ”La Cabane de Baba-Yaga sur de Pattes de Poule” (A Cabana de Baba-Yaga sobre Patas de Galinha) – Allegro com brio, feroce. Andante mosso. Allegro molto.
Design de Hartmann para um relógio de bronze, a morada da feiticeira Baba Yaga.


  1. ”La Grande Porte de Kiev” (A Grande Porta de Kiev) – Allegro alla breve. Maestoso. Con grandezza.

A grande porta de kiev, um dos exemplos mais conseguidos do programatismo musical, ao retratar com tanta precisão a magnificência de uma construção arquitectónica.
                       http://www.youtube.com/watch?v=uM-ZpfwZMps


Link para um exemplo da orquestração de Maurice Ravel de “Os quadros de uma Exposição”.  http://www.youtube.com/watch?v=JSc6y4nLTyE
O presente trabalho pretendeu, de certa forma, apresentar duas artes reunidas, a  correspondência entre dois sentidos, a visão e o som. Uma interinfluência entre a música e pintura.
  
Bibliografia:
ENCICLOPÉDIA SALVAT DOS GRANDES COMPOSITORES. Volume 4/5: Publicações Alfa, 1983
SADIE, Stanley - The new grove dictionary of music and musicians. Volume 12: Macnillan Publishers Limited, 1980

Alberto José Rocha Barros – A66254

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