segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Efeito da Música em Laranja Mecânica


Até que ponto a música comanda as nossas vidas?




          Desde quando é que a música influencia as nossas vidas? Desde sempre. Resta saber utilizar e manipular a música para um efeito desejado. Stanley Kubrick soube fazê-lo em A Clockwork Orange.
          Laranja Mecânica (tradução para português) é um filme de 1971 realizado por Stanley Kubrick, realizador americano (1928-1999), muito polémico na altura e que ainda hoje cria um efeito estranho nos espectadores.
        Esta obra-prima do cinema foi inspirada no romance de Anthony Burgess, escrito em 1962 e retrata a vida do jovem Alex (protagonizado por Malcolm McDowell), adolescente viciado e atraído para a ultra-violência, sexo, violação, e boa música, especialmente Ludwig van Beethoven. Em diversas partes do filme, Alex tem vontades súbitas motivadas pela música que ouve em seu redor, que vão influenciar o seu comportamento, ou pensamento (possivelmente destrutivo e obscuro), nos  minutos seguintes.
  
          Ao longo de todo o filme o espectador sente emoções fortes e distintas, porém, algumas delas não deviam ser associadas às determinadas alturas do filme que as suscitam, o que faz pensar... Na verdade, por que se haveria de sentir empatia por um vândalo que destrói, viola mulheres e espanca vagabundos? Todas as emoções que o público sente, e que provavelmente não seriam as eticamente mais aceitáveis, têm como causa, com toda a certeza, a música escolhida ao longo de toda a obra (para além do génio de Kubrick, claro!).
          
         A banda sonora original deste filme foi escolhida a dedo, tendo como faixas algumas das obras mais conhecidas do reportório da música erudita de compositores como Beethoven (nona sinfonia), Rossini (Abertura William Tell), Elgar (Pomp and Circumstance), entre outros. O resto das faixas foram compostas por Wendy Carlos (criador da banda sonora original do filme) e outras ainda foram retiradas de alguns clássicos do cinema anteriores ou simplesmente músicas antigas, contudo associadas a um género provavelmente oposto ao do Laranja Mecânica como «Singin' in the Rain» música do final dos anos 20 do séc. XX, resultando então num efeito de paródia.



          Tomemos então como exemplo a cena do filme em que Alex, que está a pensar há algum tempo, decide parar de o fazer para simplesmente mostrar aos seus parceiros quem lidera o gang, inspirado pela música que está a ouvir vinda de uma janela aberta:


        Verificamos então que a música que Rossini compôs para a sua ópera La Gazza Ladra, serve desta vez como apoio na decisão de Alex, que inspirado no seu tempo de valsa, decide bater nos seus parceiros com bastante prazer...
           

        Neste excerto, Alex e o seu bando assaltam uma casa e violam a mulher, esposa do homem que vai assistir a toda a violação com os seus olhos... A meu ver, o mais surpreendente nesta cena é a felicidade e euforia que Alex e o gang demonstram ao cometer esta atrocidade. Ao invadirem o lar deste casal, teoricamente um local de paz e segurança, estão desde logo a causar uma sensação de medo, pois já nem a própria casa é um local seguro. No entanto, o público que vê o filme não reage assim, aliás, pode até não saber como reagir ao absurdo do que está a acontecer:







          Neste terceiro vídeo, Alex ouve a 9.ª sinfonia de Beethoven (que deu origem ao hino da alegria), provavelmente a música que lhe traz à mente aquilo que é mais importante para ele. O adolescente ouve esta música como recompensa daquilo que fez na noite passada e sonha com imagens de violência e morte, tendo um prazer muito característico da personalidade da personagem Alex.






           Mais tarde "o nosso humilde narrador" é submetido a uma terapia revolucionária que acabará com as suas vontades malignas contra a sociedade. Contudo, durante uma das sessões, a música de fundo é a 9.ª de Beethoven, e de um momento para outro, a sua música favorita, que tanto prazer lhe dava, tornou-se a sua maldição, de tal forma que  tentou suicidar-se ao ouvi-la depois do tratamento a que foi submetido:





          Este filme tem o propósito de mostrar a capacidade e o direito à escolha do modo como a vida é vivida. Da mesma maneira que podemos viver como um bom cidadão, podemos também escolher viver como um anti-social, no entanto tem de se arcar com as consequências.
           Quanto à música, verifica-se novamente que se associa ao estado de espírito humano,  por vezes criando uma simbiose entre a música e um determinado momento na vida de uma pessoa que fica como uma memória ou é reflectido numa determinada reacção física ou psicológica. É necessário saber escolher...


                                                                                          Tiago Manuel Mendes - a63601

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