segunda-feira, 18 de junho de 2012

Literatura na Escultura

Escultura
A Escultura é uma forma de expressão artística que remonta aos nossos mais antigos antepassados. Os mais antigos objectos conhecidos datam de cerca de 30.000 anos a.C. Eram na maior parte figuras femininas (Vénus), ligadas ao culto da fertilidade. Só no Egipto Antigo é que se fazem esculturas com vista à representação de personagens, foram inseridas em monumentos fúnebres (pirâmides), ligadas também à religião politeísta que professavam (tinham crença em mais do que um deus, tinham deuses ligados a várias causas, por exemplo, Amon-Rá era o deus do sol). Nesta altura há uma grande aplicação da técnica do relevo.
Posteriormente, na Antiguidade Clássica, esta arte sofreu um desenvolvimento significativo. Primeiramente na Grécia Antiga e só depois na Roma Antiga. Na Grécia (a partir do século V a.C.), usam-se outros materiais, como o bronze, há uma tentativa de idealização das figuras representadas (normalmente seres humanos), mas sempre fiel ao naturalismo. Há um grande sentido de harmonia, equilíbrio e de movimento transmitido nas obras. A Roma Antiga é fortemente influenciada pela cultura Grega. A escultura é incutida na arquitectura, com baixos-relevos, em edifícios comemorativos, como arcos do triunfo. Pela primeira vez a arte estava ao serviço do poder do imperador, que mandava construir diversas obras como manifestação da sua grandiosidade, como por exemplo, o Imperador Octaviano César Augusto. Há um forte incremento desta arte pela Europa e pela região Mediterrânica. Na representação de figuras humanas, o realismo das feições ganha espaço, em detrimento dos cânones Clássicos, que procuravam a perfeição e a harmonia.
No período Gótico e Românico, a escultura adquire uma função puramente ornamental, na arquitectura, principalmente ligada a templos religiosos, dado que se vivia numa sociedade marcadamente teocêntrica (as causas dos fenómenos eram atribuídas a Deus).
Na época do Renascimento (século XV/XVI), há em Itália um desenvolvimento de todas as formas de arte. Há uma recuperação do estilo artístico da Antiguidade Clássica, e é neste período que surgem os nomes mais sonantes desta arte, como Miguel Ângelo, que eram patrocinados pela família Médicis, que foram os primeiros a exercer o mecenato das artes.
Os períodos Barroco e Rococó eram caracterizados por um certo exagero nos elementos decorativos, uma exaltação e ostentação da riqueza existente. Os principais centros da escultura eram Roma (Bernini), Paris (Girardon) e Baviera (irmãos Assam).
O neoclassicismo surge como uma recuperação da Antiguidade Clássica, e teve em Canova o seu representante máximo.
O século XIX surge como a afirmação da França no contexto artístico e cultural da Europa. Teve em Rodin o seu expoente máximo, cuja obra ficou para a posteridade como uma das mais emblemáticas de todos os tempos, juntamente com Miguel Angelo e Bernini.
Em Portugal, no século XX, surge o movimento modernista. A primeira década do século ficou marcada pelo gosto naturalista, tendo o expoente máximo António Teixeira Lopes (1866-1942). O Mestre, como era conhecido, ficou conhecido como a grande figura da escultura do país neste século, apesar da emergência, ainda que tímida, de alguns escultores modernistas, como Diogo de Macedo, Francisco Franco e Ernesto Canto da Maia. 

Literatura
A Literatura é a expressão de realidades, sentimentos, histórias por via da escrita. Qualquer facto pode ser escrito, tudo pode ser transformado em literatura.
A história da literatura é um campo muito vasto e alargado. A origem da literatura é muito remota, pode ter a sua génese nos nossos antepassados primitivos, com as representações que faziam nas paredes das cavernas, as pinturas rupestres, tentavam deixar o registo de caçadas que faziam e um pouco da sua vida quotidiana, que contribuiu em muito para o conhecimento que temos hoje dessa época. No Egipto Antigo, também faziam representações e pretendiam deixar mensagens, através dos hieróglifos.
Segue-se uma sucinta cronologia[1] sobre os acontecimentos literários mais importantes, desde Homero até ao século XXI:

·         Século VII a.C.: Composição da Ilíada e da Odisseia
·         Século V a.C.: Tragédia Clássica (Sófocles, Ésquilo)
·         Século I a.C.: Eneida, poema épico de Virgílio                      
·         Século IX d.C.: Literatura Provençal
·         1308: Divina Comédia, de Dante
·         1327: Il Canzioniere, Petrarca
·         1323: Decâmeron, de Boccaccio
·         1532-1534: Pantagruel e Gargântua, de Rabelais
·         1562: Publicação da Compilação de Gil Vicente
·         1572: Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões
·         1600: William Shakespeare começa a escrever as suas maiores obras a partir desta data
·         1605: D. Quixote de la mancha, de Cervantes
·         1613: Soledades, de Gôngora
·         1654: Sermão de Santo António aos Peixes, pregado pelo Padre António Vieira
·         1674: Arte Poética, de Boileau, onde se estabilizam os grandes princípios do Neoclassicismo
·         1677: Fedra, de Racine
·         1719: Robinson Crusoe, de Daniel Defoe
·         1770: Movimento Strum und Drang, na Alemanha
·         1775: Obra de Jane Austen ganha visibilidade
·         1845: Flores Sem Fruto, de Almeida Garrett
·         1851: Moby-Dick, de Herman Melville
·         1855: Walt Whitman revoluciona a poesia, com os versos livres em Leaves of Grass
·         1857: Madame Bovary, de Gustave Flaubert
·         1865: Guerra e Paz, de Leão Tolstoi
·         1885: Germinal, de Émile Zola
·         1888: Os Maias, de Eça de Queirós
·         1914: Em Busca do Tempo Perdido, de Proust
·         1914: Revista Orpheu em Portugal
·         1916: Metamorfose, de Kafka
·         1922: Ulisses, de James Joyce
·         1940: Cadernos de Poesia, de Sophia de Mello Breyner Andresen
·         1953: O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway
·         1958: Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado
·         1967: Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez
·         1998: José Saramago ganha Prémio Nobel
·         2000: Comemoração do centenário da morte de António Nobre
·         2001: Prémio Camões é atribuído a Eugénio de Andrade


[1] Elaborada com base em: Literatura. In Diciopédia Porto Editora, 2007 

Relação entre a Literatura e Escultura
Ø  António Teixeira Lopes
Autor da escultura que vamos analisar, Monumento a Eça de Queirós, nasceu em 1866, em Vila Nova de Gaia, cidade onde veio a perecer em 1942. Foi discípulo de Soares dos Reis, que foi seu professor, estudou em Paris e deu aulas na Escola de Belas-Artes do Porto.
Retrata temas históricos e religiosos, trabalhou preferencialmente em barro, mármore e bronze.
Das suas obras destacam-se o Monumento a Eça de Queirós, estátua de Bento Gonçalves, busto de Teófilo Braga, Ramalho Ortigão e da Rainha D. Amélia, estátua do seu Mestre Soares dos Reis, A Infância de Caim, A Viúva e A História.




Ø  José Maria Eça de Queirós

Autor da epígrafe em que se baseia a escultura em que nos vamos debruçar, nasceu em 1845, na Póvoa de Varzim, e morreu em 1900 em Paris. Eça revolucionou a literatura em Portugal, é considerado “um dos dois ou três grandes artistas que mais modelaram a língua portuguesa”[1], foi o principal escritor realista. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, onde conviveu com muitos representantes da posterior Geração de 70, e participou activamente na Questão Coimbrã (1865-66). Adere às correntes ideológicas em voga na época: Positivismo (procura do estado positivo do conhecimento, em que o ser humano se limita a observar os factos e partir daí formular leis, tendo como principal figura Auguste Comte), Socialismo (teve como expoente Karl Marx e Friedrich Engels, baseava-se na luta de classes para conseguir alterações na sociedade industrial do século XIX e na recusa do capitalismo) e Realismo-Naturalismo (“O Realismo é a anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos para condenar o que houver de mau na nossa sociedade”[2]. Já o Naturalismo prende-se com o Realismo, na medida em que se pintam as coisas no ambiente natural e tal como elas são). As suas principais obras são: O Primo Basílio, O Crime do Padre Amaro, A Relíquia, Os Maias, Contos, A Cidade e as Serras, O Mandarim, A Ilustre Casa de Ramires, entre outras.


[1] A.J. Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, 17ª ed., Porto Editora.
[2] Excerto de alguns princípios enunciados por Eça de Queirós, N’As Conferências do Casino Lisbonense, de título “O Realismo como nova expressão da arte”. 



Monumento a Eça de Queirós, de António Teixeira Lopes (1903) 


Esta obra é o reflexo da união entre artes aparentemente distintas, neste caso a literatura e a escultura. Numa análise inicial, esta relação não parece evidente, mas a verdade é que na base da estátua encontramos uma célebre frase do escritor Eça de Queirós, representado na escultura, que serviu de epígrafe a uma obra sua, A Relíquia: Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáphano da phantasia.
Esta obra tem uma forte influência da corrente Naturalista e Realista, daí representar o nu tal como ele é. O Romantismo, por outro lado, também está presente na obra, devido a algum sentimento evidenciado através da posição dos braços da figura feminina, da forma como se curva para trás, podendo simbolizar a entrega. É de salientar o drapeado muito usado nas esculturas da Antiguidade Clássica, que nos dá a ideia de algum requinte inerente ao corpo nu, contribuindo para enfatizar o sentimento presente.
Analisando a forma como a epígrafe d’A Relíquia está patente na obra, para além da própria inscrição, podemos afirmar que a figura masculina é Eça de Queirós e a figura feminina a verdade de que trata a frase.
A epígrafe é uma miscelânea de Racionalismo e Romantismo. Está patente o Racionalismo e Realismo quando se fala na “nudez forte da verdade”, uma metáfora que traduz a verdade, no sentido em que esta é a realidade, aquilo que efectivamente existe no mundo. Uma pessoa vestida não está a corresponder à verdade, porque não é assim que ela é na realidade. A “verdade” está representada na estátua na figura da mulher e da nudez. Há uma divisão entre a nudez (verdade) e a fantasia (“manto diáfano”, representado pelo véu). O véu, na estátua não deixa ver a nudez total, mas deixa transparecer um pouco ao imaginário de cada um. Estamos assim perante o Romantismo, que nos remete nesta obra a um certo dramatismo. Assim, estamos perante a união perfeita entre o Racionalismo e o Romantismo, a prova que dois estilos de arte diferentes não se anulam entre si, da mesma maneira que dois tipos de arte distintos podem estar perfeitamente conjugados na mesma obra.


Trabalho Realizado por

André Pires Morais da Costa

1º Ano – Curso de Música

Número 63624

Sociologia da Arte - Universidade do Minho



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