To me, movies and music go hand in hand. When
I'm writing a script, one of the first things I do is find the music I'm going
to play for the opening sequence. Quentin Tarantino
A banda sonora é um aspeto fundamental de
qualquer filme e é, normalmente, a última fase da sua pós-produção. Considerada
por vários especialistas um ‘veículo transportador de emoções’, uma banda
sonora diz-nos como experienciar uma determinada cena, sendo óbvia a
importância desta componente para o sucesso de qualquer filme. A obra mais
grandiosa pode falhar redondamente caso a sua banda sonora não esteja à altura
de a acompanhar. Existem inclusive vários realizadores de cinema que
afirmam construir determinadas cenas de forma às mesmas se enquadrarem com um
determinado tema musical, sendo esta uma situação em que acaba por ser a
própria música a conduzir o desenrolar da cena.
Nos primórdios, por impossibilidade
técnica, o filme era desprovido de som (banda sonora ou diálogos), e os
realizadores e espectadores pouco se importavam com isso. A interpretação dos
atores era mais física e expressiva, uma vez que o som dos diálogos era
inexistente.
Quando o sonoro
surgiu, no filme The Jazz Singer (1927,
com o ator Al Jonhson a imitar um cantor de jazz negro), houve alguma
resistência por parte de grandes vultos do cinema à novidade técnica do som.
The Jazz Singer, Alan Crosland
Os realizadores de cinema cedo se aperceberam da
grande importância que a música detinha como complemento das imagens. Por isso
Eisenstein trabalhou logo em 1938 com o compositor Sergei Prokofiev, que compôs
a banda sonora épica do filme Alexander
Nevsky, num exemplo acabado da
perfeita sincronia criativa entre imagem e som.
Depois de Lieutenant Kijé (1934) e Pique Dame (1936), Prokofiev escreveu esta banda sonora, estando envolvido não apenas na composição como também na sua gravação. Experimentou os microfones de várias distâncias diferentes, de forma a obter o som desejado – as trompas (que representavam as Ordens Teutónicas) tocaram extremamente perto dos microfones para o som ser estridente e distorcido; os metais e os grupos corais foram gravados em estúdios diferentes, juntando-se mais tarde, numa fase final.
O compositor utilizou diversos
estilos musicais, de forma a invocar o imaginário necessário. Por exemplo, as
Ordens Teutónicas (vistas como um adversário) eram representadas pelos
instrumentos de metal mais graves que tocavam acordes completamente dissonantes
num estilo marcial. Por sua vez, as complacentes forças russas eram
predominantemente apresentadas num estilo folk, pelas madeiras e pelas cordas.
Depois de escrever a música para
o filme, Prokofiev decidiu fazer um arranjo da obra e dirigiu uma cantata para mezzo-soprano,
coro e orquestra (estreada a 17 de Maio de 1939 em Moscovo). Uma vez que os
elementos do filme se mantiveram, é importante, para se perceber a interação
música-filme, a explicação dos seus 7 andamentos:
1. "Russia under
the Mongolian Yoke" – O andamento começa lento em Dó menor, recriando
uma imagem de destruição, a qual a Rússia sofreu aquando a invasão dos Mongols.
2. "Song about Alexander Nevsky" – Este andamento representa a vitória do
Príncipe Alexander Yaroslavich sobre o exército sueco na Batalha de Neva em
1240. Alexander recebe o nome de Nevsky em forma de agradecimento.
3. "The Crusaders in Pskov" – Para este andamento, a intenção inicial
de Prokofiev era utilizar apenas música religiosa do século XIII, contudo, os
exemplos que encontrou no Conservatório de Moscovo soaram frios e aborrecidos
para o século XX, acabando por desistir dessa ideia. Compôs um tema original
onde evocava a brutalidade das Ordens Teutónicas.
4. "Arise, ye
Russian People" – Este é um chamamento do povo russo às armas.
5. "The Battle on the Ice" – O quinto (e maior) andamento é claramente o
clímax da cantata. Representa o choque final entre as forças de Nevsky e das
Ordens, numa superfície congelada do lago Peipus em 1242. O início sereno é
contrastante com o chocante meio do filme, o qual é todo ele num estilo
cacofónico.
6. "The Field of
the Dead" – De novo em Dó menor, este é o lamento da rapariga que procura
o seu amante, e beija as pálpebras de todos os mortos em busca do seu amor. O
solo é então feito pela mezzo-soprano.
7. "Alexander's
Entry into Pskov" – O sétimo e último andamento ecoa o segundo, recordando
o triunfante regresso de Alexander a Pskov.
E como esta fantástica obra cinematográfica ficou
guardada nas mais emblemáticas, há outras que ainda hoje são citadas com
bastante frequência, dada a sua genialidade.
Há
pequenos e determinados pormenores nesta arte que talvez passem despercebidos a
pessoas que vejam o filme com menos atenção mas, aquilo que a música, em
sintonia com um bom filme, pode fazer, é inteligente. Em The
Straight Story, por exemplo, David Lynch brinca com a
recordação do pobre velho ao pensar na Segunda Guerra Mundial. Vai narrando a
sua história, correndo nas lembranças, mantendo a imagem fica fixa nele
enquanto sons de aviões, tiros e tudo o mais começam a ser ouvidos.
The Straight Story, David Lynch
É cada vez mais evidente a importância das bandas sonoras num filme ou
série. É engraçado até ver que há determinadas músicas que são associadas de
imediato a um filme, músicas que marcam bons momentos, boas amizades ou um amor
vivido. É também para mim um enorme prazer falar sobre este assunto, como
músico e apreciador de música que sou e, acima de tudo, como apaixonado pelas
chamadas “músicas para filme”.
“Veja
um filme em silêncio e depois veja-o outra vez com os olhos e
os ouvidos. A música dá o clima para o que seus olhos vêem, guia
suas emoções, é a moldura emocional para o
que as imagens mostram” David
W. Griffith
A66908 - Jorge Manuel Fernandes Freitas
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